quarta-feira, 15 de junho de 2011

ALGORÍTMO DAVID LIBERMAN (ADL) COMO MÉTODO DE PESQUISA PSICANALÍTICA EM ANÁLISE DO DISCURSO.

ALGORÍTMO DAVID LIBERMAN (ADL) COMO MÉTODO DE PESQUISA PSICANALÍTICA EM ANÁLISE DO DISCURSO.

* Zeno Germano

Resumo: Este artigo pretende conceituar introdutoriamente o método Algoritmo David Liberman (ADL) de análise do discurso em sua perspectiva psicanalítica. Parte da origem dos trabalhos de David Liberman, associando estilos de comunicação á teoria da libido de Freud, até os desenvolvimentos posteriores propostos por David Maldavsky, construindo e solidificando o método a partir dos conceitos de pulsões e defesas psíquicas.

Palavras-Chave: Método, Psicanálise, Discurso, Defesas.

DAVID LIBERMAN ALGORITHM (DLA) WHILE PSYCHOANALYTICAL SEARCH METHOD IN DISCOURSE ANALYSIS.

Abstract: This introductory article seeks to conceptualize the David Liberman Algorithm (DLA) method of discourse analysis in his psychoanalytic perspective. Start from the orign of the work of David Liberman, involving communication styles will libido theory of Freud by subsequent developments proposed by David Maldavsky building and solidifying the method based on the concepts of drives and psychic defenses.

Key-Words: Method, Psychoanalysis, Discourse, Defenses.

O Método de Análise do discurso Algoritmo David Liberman (ADL) se constitui como possibilidade de oferecer ao pesquisador os instrumentos para compreender, segundo o pensamento psicanalítico, a dinâmica psíquica inconsciente. Ou seja, pulsões e mecanismos de defesa dos sujeitos por meio da linguagem verbal em seus relatos, frases e palavras constitui o interesse do método.

Em Psicanálise as investigações clínicas têm sido usadas para desenvolver hipóteses teóricas no estudo de condições psicopatológicas, para fundamentar propostas de abordagens terapêuticas ou apenas para avaliar resultados. Paralelamente sempre há polêmicas sobre questões metodológicas e epistemológicas, como os ainda comuns questionamentos sobre ser ou não a Psicanálise uma ciência.

Outro aspecto costumeiramente presente nos discursos psicanalíticos, recai sobre as diferenças entre a corrente anglo-saxã de se fazer psicanálise e a corrente francesa. A primeira recorre a instrumentos e métodos para analisar as sessões, porém cada vez mais é uma corrente afastada da metapsicologia freudiana e voltada para intervenções de adaptação do ego ao meio ambiente. A segunda repele tais instrumentos e acredita apenas no que acontece dentro da própria sessão analítica (as relações transferenciais) como meio de análise e interpretação.

Preocupado em garantir a validade metodológica, principalmente em seus objetivos de pesquisa qualitativa, o método oferece a manutenção da teoria metapsicológica freudiana, sistematizando seu conteúdo de forma a não esvair sua riqueza subjetiva e intersubjetiva garantindo a análise do singular (como os estudos de caso único, por exemplo) mas também se organizando quantitativamente por meio de instrumentos como grades específicas e uma análise por meio de dicionários computadorizados. Configura-se assim enquanto método essencialmente quantitativo-qualitativo.

O ADL inicialmente foi aplicado ás problemáticas de ordem clínica, psicoterápicas, onde se preocupa basicamente com a dinâmica inconsciente dos pacientes em análise e/ou com o desenvolvimento da análise a partir da relação analista-paciente, enfatizando o sentido intersubjetivo do trabalho analítico. Entretanto, nos últimos anos, o método está sendo aplicado também a outros campos da cultura, como a análise de novelas, situações políticas ou obras de arte.

Origens Históricas.

Para o adequado entendimento do que é o método ADL, precisamos nos remeter ás origens históricas deste. Aqui temos que falar do psicanalista argentino David Liberman, que durante as décadas de 60 e 70 desenvolveu uma série de estudos que culminaram nas condições teóricas para o advento do método em questão.

Sobre Liberman escreveu Aronis (1995);

David Liberman se considerava alguém que colocava a pesquisa em Psicanálise como o alvo de seus interesses. Inconformado coma lacuna existente entre os conceitos teóricos com grandes níveis de abstração e o que ocorria na prática clínica diária, mantendo distantes a metapsicologia, a técnica e a teoria da técnica, propõe uma reformulação da psicanálise sobre a base da evolução do diálogo psicanalítico, concedendo á sessão analítica um papel central como método e objeto de indagação. (p.17)

Liberman (1970) estudou os estilos comunicativos dos sujeitos falantes com um enfoque psicanalítico e basicamente defendia que cada paciente apresentava estilos de comunicação onde haveria alguns estilos predominantes. Estes estilos seriam indicativos da organização psicopatológica dominante no psiquismo de cada paciente.

Liberman tinha ampla noção que o conceito de estilo envolvia um valor intermediário entre a teoria e a clínica psicanalítica. Em um primeiro momento esbarrou na compreensão de que não se remeteria a um paciente concreto, pois este teria em sua dinâmica psíquica, vários estilos simultaneamente. Em um segundo momento conectou o conceito de estilo a conceitos teóricos do campo freudiano; a fixação pulsional e os mecanismos de defesa.

No desenvolvimento de seu trabalho, Liberman estabeleceu nexos entre os estilos comunicativos, as estruturas clínicas e os pontos de fixação libidinal descritos por Freud ao longo de sua vasta obra e por Karl Abraham no livro Teoria Geral da Libido em 1927; fases oral primária e secundária (O1 e O2), anal primária e secundária (A1 e A2), fálico uretral e fálico genital ( F1 e F2).

Aronis (1995) escreve;

As denominações de “pessoa” demonstrativa, atemorizada ou fugidia, lógica, de ação, depressiva, observadora-não participantes e infantil exprimem em cada um destes tipos as características específicas de comportamento na situação analítica, fatos que são determinados pelo ponto de fixação da libido predominante (segundo Abraham) para o qual o paciente regressa ao se estabelecer a transferência. ( p.17)

Liberman pensa que para construir uma teoria em psicanálise tem que partir do fenômeno da transferência em seu conceito operacional. Entretanto considera inadequado ampliar o termo transferência para qualquer tipo de comportamento fora da sessão, considerando assim a sessão como único campo de observação e experiência.

Escreve Liberman (1970/2009);

Según mi punto de vista ( y sé que no soy el único en nuestro medio que piensa así), para construir teorías hay que partir de la transferencia. Ahora bien, para llegar a explicar todo lo que comprendemos sobre transferencia en la práctica psicoanalítica, se debe tomar como punto de partida todo lo que emana del conjunto de contantes y variables que forman un contexto total que llamamos situación analítica.

(…) Para lograr una comprensión integral de los fenómenos transferenciales, de be considerárselos como estructuras de comportamiento resultantes de las motivaciones inconscientes que están operando en un momento dado y de factores provenientes del método psicoanalítico (regla fundamental, horarios, honorarios, la posición decúbito, la actividad inconsciente del terapeuta, etc.). (p.73)

Liberman escreve ainda que enfocando o problema desta maneira, se deve tomar como material de observação o curso de todo o tratamento psicanalítico, ou um conjunto de sessões ou uma sessão apenas, assim como fragmentos de uma única sessão ou fragmentos de várias sessões. Em suma, a pesquisa psicanalítica está atrelada ao que acontece na própria sessão entre seus envolvidos, analista e analisando.

Liberman estudou durante vinte anos a linguagem dos pacientes como expressão das fixações pulsionais. Esta sua tentativa de reunir a teoria com as manifestações parte de uma proposta dedutiva e neste sentido se diferencia de outras propostas caracterizadas como meramente indutivas.

A maioria dos métodos sistemáticos de análise do discurso parte de uma orientação indutiva e pragmática, motivo pelo qual não é fácil estabelecer um caminho de nexo com a metapsicologia freudiana. Liberman não abriu mão da metapsicologia.

Liberman recorreu aos instrumentos que possuía conceitualmente á época, no campo lingüístico e semiótico, tanto para justificar quanto para descrever sua categorização dos estilos. Também realizou estudos clínicos dos discursos de vários pacientes. Neste sentido Maldavsky (2007) escreve;

Por un lado, apeló a la descripción de Ruesch (1957) de los estilos de comunicación para presentar su enfoque general, a las ideas de R.Jakobson (1960) sobre los factores y las funciones del discurso para precisar qué rasgo el paciente enfatiza, a las de N.Chomsky (1965) para formalizar el estudio sintáctico del discurso en el nivel de la frase, al enfoque de Pitenger et al.( 1960) para investigar los rasgos fonológicos de los pacientes, etc. Por otro lado, recurrió a la perspectiva de la pragmática de la comunicación humana (…) para destacar cómo el paciente usa su discurso en la sesión ante el terapeuta. Liberman se esforzó por utilizar estos conceptos para avanzar en desarrollo de la investigación clínica sistemática. (p. 26)

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Como citado, Liberman foi influenciado por autores como Ruesch (1957) e sua teoria geral de comunicação, Jakobson (1960) e sua idéias sobre fatores e funções do discurso, além de Chomsky (1965) que realizou estudos sintáticos do discurso a nível de frases e Pittenger (1960) que abordou os aspectos fonológicos dos pacientes. Todos estes autores foram importantes no campo da lingüística e da semiótica.

Sobre a influência de Ruesch no trabalho de Liberman, Aronis (1995) escreve;

Quando pretere a classificação de Fenichel da nomeclatura psicanalítica clássica, baseada nos enfoques histórico-genéticos, pela de Ruesch, baseada nos fenômenos da comunicação, ele define a direção que passará a dar á sua pesquisa. (p.17)

Assim, torna-se necessário construir uma lógica de observação de cada sessão. A Semiótica forneceu a Liberman esta possibilidade quando este escreve que o manejo dos sinais e mensagens do analisando se dá em três campos: o campo sintático, o campo semântico e o campo pragmático.

Pacientes com perturbações na comunicação a nível sintático seriam os histéricos, fóbicos e obsessivos compulsivos. Para Liberman (1970/2009);

Estos analizandos, a los que yo denomino pacientes com perturbaciones a predomínio sintactico, tienen, puesto que se comprometen com lo que dicen, dificultades para realizar y mantener emisiones verbales com um grado óptimo de gramaticalidad.

En estos pacientes notamos interrupciones, câmbios de plan, establecimiento de falas conexiones y, por sobre todas las cosas, lagunas em las construcciones verbales y también en la forma com las emiten. (p.564)

São então, pacientes descritos como apresentando discursos de estilo narrativo, dramático ou de impacto estético. Os pacientes dentro destes estilos de comunicação, são os mais acessíveis á abordagem clássica da psicanálise, pois se submetem melhor a regra fundamental da associação livre.

Os pacientes de comunicação pragmática são descritos pro Liberman como sendo os psicopatas, os de caráter perverso ou ainda os psicóticos, que apresentam uma dificuldade considerada a se submeterem a regra psicanalítica, apresentando ainda interesses distintos ao de se tratar ou podem buscar manipular a relação analítica.

Já os de predomínio semântico são pacientes que apresentam discursos desconectados ao mesmo tempo em que parecem estar associando adequadamente. Tal situação costuma gerar confusão no próprio analista que ao crer que está psicanalisando este paciente, percebe que não está fazendo nada. São pessoas esquizóides, ciclotímicas, psicossomáticos e hipocondríacos.

Em verdade Liberman não chegou a efetivar um conjunto de instrumentos concretos para investigação sistemática. Do ponto de vista metodológico, seu principal legado consistiu em colocar as bases para a operacionalização de dois conceitos centrais em psicanálise; fixações pulsionais e mecanismos de defesa. Coube a Maldavsky, de posse destas bases, construir o método.

Trabalhando junto com Liberman, Maldavsky desenvolveu mais ainda os estudos iniciais que articulavam os estilos comunicativos aos aspectos psíquicos. Maldavsky iniciou os estudos de análise de frases, formalizou a sistematização do ideal do ego como uma expressão de cada erogeneidade e construiu maiores precisões ás descrições de cada estilo.

Aspectos gerais do Método ADL.

O Algoritmo David Liberman (ADL) foi criado e depois desenvolvido para investigar o discurso a partir da perspectiva psicanalítica freudiana e tem como objetivo detectar as pulsões e defesas expressas por meio da linguagem. Em outras palavras, do que fala e como fala um sujeito, é a preocupação do método, assim como é essência da própria psicanálise. Os níveis de linguagem aparecem para análise como palavra, frase e relato.

As pulsões que podemos trabalhar no método são as mesmas que Freud em sua obra inicialmente postulou quanto ao desenvolvimento da libido, porém acrescida de uma a mais; São elas: Pulsão Oral Primária (O1), Pulsão Sádico Oral Secundária (O2), Pulsão Sádico Anal Primária (A1), Pulsão Sádico Anal Secundária (A2), Pulsão Fálico Uretral (F1) e Fálico Genital ( F2).

A que devemos acrecer é chamada de Libido Intra-Somática (LI), que de acordo com Maldavsky (2004); “...ha sido mencionada por Freud (1926) solo de paso, al afirmar que en el primer momento de la vida posnatal los órganos internos (sobre todo corazón y pulmones ) reciben una fuerte sobreinvestidura libidinal.” (p.15).

Fixações da libido nesta fase são os indicativos psíquicos de pacientes psicossomáticos e de dependentes químicos, que trazem em suas dinâmicas psíquicas a dificuldade de associação livre verbal. Ora, a libido intra-somática é um estágio anterior a qualquer construção de palavra na criança, sendo então anterior à própria fase oral.

Quanto aos mecanismos de defesa psíquica, o método distingue algumas defesas que são centrais: a repressão, o desmentido, desestimação da realidade e da instância paterna, desestimação do afeto, a sublimação e a criatividade. Além destas defesas centrais, adiciona outro grupo denominado de defesas complementarias; entre elas a identificação, a projeção, a anulação, negação, dentre outras.

Escreve Maldavsky (2007);

Los instrumentos para la investigacíon de la erogeneidad parten del supuesto de que esta se expressa em escenas. Las mismas pueden ser narradas (y en consecuencias las investigamos con la grilla de análisis del relato) o desplegadas al hablar, en la relación con el analista ( y en consecuencia las investigamos con la grilla de análisis de los actos del habla, etc.).En cuanto a las defensas, las consideramos, como Freud (1915/2000), destinos o vicisitudes de las pulsiones. Por ello, la investigacíon de la defensa es posterior a la detección de la fijación pulsional dominante. Partimos de la siguiente propuesta: si la escena permite detectar la erogeneidad, la posición del hablante en dicha escena permite detectar la defensa. (p.31)

A compreensão dos aspectos abordados pelo ADL, significa considerar que ao invés de pensarmos os sujeitos analisados como estruturas clínicas unitárias fixas (seja meramente neurótico, psicótico ou perverso, para falarmos em termos lacanianos), devemos considerá-los como um conjunto de erotismos e defesas psíquicas que em suas dinâmicas podem apresentar mudanças nestes estados e mesmo apresentar a coexistência de manifestações psíquicas inicialmente diferentes.

Sobre este ponto Maldavsky ( 2004) escreve:

A veces nos encontramos com uma contradiccíon entre dos análisis de las frases: uma misma defensa puede aparecer, em um momento, como normal y em outro, como patógena. También puede ocurrir que uma misma defensa patógena aparezca por momentos como exitosa y em otras ocasiones, como fracasada. En realidad, no se trata necesariamente de un conflicto en el cual debamos optar por una o por otra alternativa. Puede ocurrir que el análisis detecte variaciones en la defensa, que pasa de normal a patógena o viceversa, o variaciones en la defensa patógena, que pasa de exitosa a fracasada o viceversa. (p.33)

Com o exposto até aqui, vamos afirmar que o método ADL se interessa por estudar as cenas, tanto as relatadas por um paciente, por exemplo, como as atuadas na sessão ante o analista e também as posições daquele que fala nestas cenas. O método então pretende detectar as pulsões e defesas em jogo por meio das variações que podem ocorrer em sessões diferentes ou em fragmentos de uma sessão.

Neste sentido é importante frisar que o método pode estudar a relação intersubjetiva proveniente do trabalho entre analista e paciente quando se tratar de clínica. Estudamos não apenas o discurso dos pacientes como também o dos próprios terapeutas através de uma análise de suas intervenções no processo analítico. Neste sentido temos que recorrer á gravação das sessões analíticas, lembrando que deverá ter o consentimento do paciente.

Maldavsky (2004) ressalta que há tipos de análise da erogeneidade assim como instrumentos diferenciais; Quando se trabalha com relações extratransferenciais, o instrumento adequado é a grade de relatos. Quando se trabalha com relações transferenciais o instrumento deve ser a grade de frases. Por fim, se trabalhamos a valoração crítica dos resultados das análises de relatos e frases (redes de palavras), passamos aos programas de computador.

O método prevê as grades e o programa de computador que se constitui em um dicionário computadorizado que por meio de uma rede de palavra as correlaciona com as pulsões e as defesas do ego. Tanto um quanto outros são as ferramentas que permitem analisar o material verbalizado.

O uso do dicionário computadorizado apresenta algumas dificuldades que não passam despercebidas por Maldavsky (2004);

Pese a su evidente utilidad em la investigacíon, el desarrollo de tales diccionarios se topa com diversas dificultades. El primer problema reside en el criterio para agrupar las palavras. La ubicación de las palabras en categorías parece dificultar-se además por el echo de que un mismo término suele tener varias significaciones, a veces contradictorias. Así, pues la creación de un diccionario suele presentar al menos un doble problema: cómo definir las categorías para agrupar las palabras, cómo resolver la cuestión de la polivalencia semántica de cada término. (p.69)

Maldavsky aponta que muitas das dificuldades do dicionário computadorizado acontecem pela ampla possibilidade das palavras terem diferentes valores dependendo do contexto em que se use e ainda a questão de significados a partir de metáforas, ambigüidades e outros recursos retóricos. Neste sentido a própria questão de utilizar o programa computadorizado em sujeitos que falam português e não espanhol ou castelhano, faz com que consideremos a necessidade de tradução e devidas contextualizações das redes de palavras originalmente criadas para a análise.

Com os estudos de relatos de pacientes podemos com o método detectar as fixações pulsionais e investigar as características de certas estruturas psicopatológicas. É o caso das histerias de conversão e demais características histéricas onde predomina a pulsão de tipo F1 ( Fálico genital), em histerias de angústia e fobias onde o predomínio é de F2 ( Fálico uretral ), neurose e caracteriopatias obsessivas, com tendência pulsional Sádico anal secundário ( A2), em caracteriopatias perversas e transgressoras além de paranóicas, temos o erotismo sádico anal primário ( A1), em sujeitos depressivos ou psicóticos maníacos depressivos temos o erotismo oral secundário (O2), esquizóides e esquizofrênicos em erotismo oral primário (O1) e por fim, sujeitos adictos, psicossomáticos e traumatizados remetem ao erotismo da libido intrasomática ( LI).

Os relatos contêm basicamente; um estado inicial de equilíbrio que é alterado por uma primeira transformação que corresponde a um despertar de desejo latente. Logo ocorre uma segunda transformação que é inerente a tentativa de consumação e uma terceira transformação que inclui as conseqüências da terceira tentativa até o estado final. Este trâmite constitui a matriz das seqüências narrativas; ou seja, dois estados, um inicial e outro final e no mínimo três transformações.

Importante frisar que; Como os relatos permitem realizar uma análise dos fenômenos extra-transferenciais, se consegue por meio deles uma compreensão do contexto geral da dinâmica psíquica do sujeito enquanto que, com a análise de frases, há um escopo transferencial enfocando o que o sujeito fala em sessão na relação com o terapeuta. A compreensão é mais específica, podendo também remeter á figura do terapeuta e sua subjetividade.

Neste ponto, o método valoriza a análise por meio das estruturas-frase como expressão do erotismo; Maldavsky escreve (2004,p.99) “... nuestro interese se centra no en las historias narradas por el paciente, sino en las escenas efectivamete desplegadas durante la sesíon, durante el intercambio discursivo.”

Para investigar as cenas especificamente atuadas ao falar, afirmamos que é fundamental e necessário prestar atenção ás estruturas-frase. Aqui, interessa ao pesquisador uma frase que expresse a subjetividade de quem a profere: se objeta, reflexiona, exagera, dramatiza, se interrompe a frase por impaciência, se expressa emoções, etc.

Ao mesmo tempo, é reconhecido que falta uma tradição psicanalítica da análise de frases, o que se configura em certo prejuízo para a sistematização, que agora tenta ser sanada por meio da construção conceitual das estruturas-frases no Método ADL.

A análise das frases torna possível inferir e refinar a investigação da transferência e da contratransferência em uma sessão com um sujeito falante, tornando-se um caminho analítico diferente da análise dos relatos, que como já mencionamos trabalha com inferências extra-transferenciais.

Seja qual for o interesse do pesquisador, a relação transferencial ou a relação extra-transferencial, em ambos os terrenos o método trabalhará com a investigação das fixações pulsionais e os estados psíquicos de defesa. Escreve Maldavsky (2007);

Los instrumentos para la investigacíon de la erogeneidad parten del supuesto de que esta se expresa em escenas. Las mismas pueden ser narradas ( y en consecuencia las investigamos con la grilla de análisis del relato) o desplegadas al hablar, en la relación con el analista( y en consecuencia investigamos con la grilla de actos de habla, etc.).

(…) la investigacíon de la defensa es posterior a la detección de la fijación pulsional dominante. Partimos de la siguiente propuesta: si la escena permite detectar la erogeneidad, la posición del hablante den dicha escena permite detectar la defensa. (p. 31)

Além do estudo das pulsões presentes nos discursos, o ADL se interessa também pela compreensão de como funcionam as defesas psíquicas inconscientes presentes no sujeitos. As defesas são então compreendidas como destinos da pulsão e Maldavsky (2001) enfatiza que não podemos separar a compreensão dos mecanismos de defesa das manifestações pulsionais;

El análisis de la defensa es inseparable de la consideración de la erogeneidad a la cual aquella se enlaza, así que, en el orden global de los procedimientos metodológicos, el examen de las manifestaciones para discernir cuál és la pulsión sexual eficaz es prioritario, y el de la defensa corresponde a un paso ulterior. Entre las defensas, sólo consideramos aquí las dominantes: represión, desmentida, desestimación de la realidad y de la instancia paterna, desestimación del afecto. Todas ellas pueden ser normales (funcionales) o patógenas. (p. 20)

A partir da Psicanálise, o método expressa que entre os tipos de defesa psíquica, a repressão se entrelaça com as pulsões sádico-anal secundária, fálico-uretral e fálico-genital. A desmentida e a desestimação da realidade e da instância paterna se entrelaça com a pulsão oral-primária, sádico oral-secundária e sádico-oral primária e a libido intra-somática está relacionada a uma desestimação de afeto.

Assim, a investigação clínica em psicanálise tem na questão dos mecanismos de defesa um papel central. Maldavsky (2001, p.206) escreve que quando procuramos propor mudanças psíquicas em um paciente, apontamos para as mudanças oriundas das transformações ocorridas com as defesas.

Maldavsky (2001, p.221) salienta que para se analisar as defesas, deve-se escutar no discurso do sujeito manifestações como um aumentativo, um diminutivo, um corte na oração, um grito, um sussurro, um lamento ou uma reprovação. Tais formas de expressão verbal são alguns indicativos dos tipos de defesas psíquicas presentes no sujeito.

Marco Teórico: Psicanálise e Subjetividade.

Para uma adequada compreensão do ADL, torna-se fundamental a leitura sistemática e aprofundada da Psicanálise Freudiana, marco teórico do método que fundamenta todo o arcabouço conceitual utilizado na absorção e aplicação do método em contextos discursivos.

Em Pulsão e seus destinos (1914), Freud estabelece o conceito de pulsão, apresenta as pulsões do ego ou autopreservativas e as pulsões sexuais como manifestações essenciais da vida humana e enfatiza que existem vicissitudes pelas quais as pulsões passam ao longo do desenvolvimento humano. Estas são as defesas psíquicas.

A construção do conceito de pulsão em verdade, começa a ser delineado em Três ensaios para uma teoria da sexualidade (1905). Nesta obra aparece a pulsão sendo compreendida a partir da criança e seu desenvolvimento por fases, de recém nascido a adolescência. Nesta mesma obra já aparecem também conceitos de mecanismos de defesa como a formação reativa e a sublimação.

O Ego e o Id (1923) é uma obra freudiana que traça as diferenças entre consciência e o sentido de inconsciente que organiza o pensamento psicanalítico para a compreensão do homem, assim como estabelece a famosa 2º tópica; Id, Ego e Superego, apresentando a compreensão de que o ego e o superego também são em grande parte inconscientes. Nesta obra, assim como em O inconsciente (1914), é possível percebermos a idéia de que o homem é guiado por manifestações pulsionais que lhe chegam de forma indireta e que não temos acesso senão por meio de derivados mentais, presentes por meio basicamente da linguagem.

A predominância do inconsciente por meio da linguagem já surge em Freud na obra Psicopatologia da vida cotidiana (1901), quando leva em consideração os lapsos de fala, esquecimento de nomes e troca de palavras como tendo em si um significado subjacente ao discurso manifesto consciente e em O chiste e sua relação com o inconsciente (1905) quando estuda o aspecto cômico nos discursos como manifestação do inconsciente.

A preocupação que norteia o método ADL converge diretamente ao estudo do subjetivo a partir da compreensão freudiana.; Kazez (2008) escreve sobre a preocupação em conceituarmos adequadamente a subjetividade:

Comencemos entonces a definir a qué nos referimos cuando hablamos del origen de la subjectividad. Este problema puede ser considerado desde la perspectiva freudiana ao menos desde tres concepciones (Maldavsky, 1997): la de la oposición actividad-pasividad (1915c), la de la identificación primaria (Freud, 1921c) y la de la consciencia inicial (1950a en Projecto de una Psicología para neurólogos), que intentan explicar cómo se constituye la subjetividad. (p.02)

Kazez (2008) cita obras de Freud como Pulsões e seus Destinos e Psicologia das massas e análise do eu para especificar que nestes trabalhos estão estabelecidos, respectivamente, os conceitos de pulsão e a oposição atividade-passividade (os chamados pares de opostos) e também a conceituação da identificação primária, constructos essenciais para a construção da subjetividade.

Escreve Kazez (2008);

Em síntesis, los procesos subjetivos se originan en el empuje pulsional, que en el encuentro con la subjetividad ajena, culmina en el desarrollo de una cualidad en la conciencia de donde derivan los afectos y el universo representacional. Los procesos subjetivos tienen su punto de partida en el enlace entre la libido y las percepciones, y comienzan a desarrollarse con el surgimiento de la conciencia, que solo puede dar-se en el encuentro con semejantes con una postura empática Los afectos representan una particular ligadura del incipiente sujeto con sus propios procesos pulsionales. (p. 132)

A autora também salienta, no mesmo trabalho, que a linguagem não é a única forma de expressão dos processos subjetivos nos sujeitos e que a percepção, a motricidade e a especialidade são também modos de expressão das pulsões. A diferença está no fato de que como a fala aparece na maioria das pessoas; “ (...) permite acceder de um modo más preciso ao estudio de los recursos implementados para el procesamiento pulsional y de la posibilidad individual de ajuste de los imperativos de la realidad y de la instancia critico-valorativa” (p.133)

Sobre a noção de subjetividade, Maldavsky (2007) escreve;

Em efecto, la noción de subjetividad contiene además un segundo rasgo, consistente en el desarrollo de una función de la conciencia originaria, la cualificación. Los contenidos de la conciencia originaria son, para Freud (1950a), las impresiones sensoriales y los afectos, entre los cuales estos segundos son los primordiales y dotan de significatividad a las primeras. (p.17)

Maldavsky (2007) conclui também que a capacidade de sentir os afetos não está presente em todos os sujeitos o que significa dizer que nestes casos há um prejuízo da subjetividade;

La capacidad para sentir los estados afectivos, su matriz, es uma conquista que se logra tempranamente, em la medida em que ciertas disposiciones yoicas se encuentran com um ambiente empático. El afecto es uma forma de cualificar, de hacer concientes los procesos pulsionales y al mismo tiempo, em la medida em que es consecuencia de la empatía de los progenitores, también es un forma de estabelecer un nexo con la vitalidad de los procesos pulsionales de estos: pero existen individuos en los cuales esta conquista psíquica temprana no se desarolló o se arruinó luego, de manera transitoria o más duradera, y en tales ocasiones la subjetividad queda interferida, al menos parcialmente, y en su lugar suelen aparecer alteraciones somáticas. (p.17-18)

Considerações Finais

O método de análise do discurso Algoritmo David Libermann, ADL, apresentou-se para nós como a possibilidade mais eficaz e de maior validade para a pesquisa psicanalítica, principalmente por interpretar os discursos a partir da metapsicologia freudiana, pensando as manifestações pulsionais e seus destinos enquanto mecanismos de defesa psíquica.

A interpretação metapsicológica por meio do ADL pode assim, levar a uma compreensão das dinâmicas psíquicas que se apresentam nas falas dos sujeitos, contribuindo não apenas á clínica psicoterápica e psicanalítica, mas também a outras situações em que o discurso se faça presente, ou seja, em cada campo de constituição do humano e em sua relação com o outro.

Referências Bibliográficas.

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____________.La investigación psicoanalítica del lenguage. Buenos Aires. Lugar Editorial. 2004.

_____________. La intersubjetividad en la clínica psicoanalítica. Buenos Aires. Lugar Editorial. 2007.

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Universidad de Ciencias Sociales y Empresariales. (2010). La cita y referencia bibliográfica; Guía basada en las normas APA. UCES. Buenos Aires.

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· Zeno Germano.

· Psicólogo (CRP01/7798). Professor do curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil. ILES/ULBRA/Porto Velho, Rondônia. Doctorando en Psicología / Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales de Buenos Aires/Argentina.(UCES).

A CLÍNICA DA PSICOSSOMÁTICA (CONSIDERAÇÕES PSICANALÍTICAS)

A CLÍNICA DA PSICOSSOMÁTICA (CONSIDERAÇÕES PSICANALÍTICAS)

Resumo: Este artigo tem o objetivo de trabalhar com a compreensão psicanalítica da psicossomática a partir do tratamento possível na clínica. Traz as conceituações dos autores que criaram as condições, desde Freud, para que se possa pensar o fenômeno hoje e tenta-se apresentar as características que marcam a direção do tratamento da psicossomática naquilo em que ela se diferencia da neurose.

Palavras-chaves: Psicossomática, Psicanálise, corpo, clínica, fenômeno.

PSYCHOSOMATIC CLINIC (PSYCHOANALYTICAL CONSIDERATIONS).

Abstract: This article aims to works over the psychoanalytical comprehension of psychosomatic from the possible treatment at the clinic. It brings some conceptions from the authors who created such conditions, since Freud, in order to enable some thoughts about this phenomenon nowadays, and also tries to show the features which determine the direction of psychoanalytical treatment of the psychosomatic on what it distinguishes from neurosis.

Key-words: Psychosomatic, psychoanalysis, body, treatment, phenomenon.

Nas últimas décadas do século XX, o uso do termo “psicossomática” passou a ser freqüente tanto no meio médico e psicológico quanto no meio da comunidade científica, sendo que também já não era novidade no seio das sociedades psicanalíticas, que desde as manifestações conversivas da histeria anunciadas por Freud no início do pensamento psicanalítico, colocam os analistas diante da lida com a questão do adoecimento do e no corpo.

Entretanto, mesmo se configurando como tema assíduo entre os analistas e tendo uma literatura relativamente abundante, é preciso cada vez mais reconhecer que a psicossomática é um terreno ainda com aspectos misteriosos e de contornos imprecisos, o que leva os pesquisadores do fenômeno a necessidade de aprofundar constantemente seus conceitos.

A Problemática da psicossomática: delimitando o campo.

Para se ter uma visão geral atual da psicossomática, vamos nos remeter aos estudos tanto de cunho psicanalítico quanto os oriundos do discurso médico, a chamada medicina psicossomática. Nicolau (2008) enfatiza que, apesar de mudanças que passaram a ocorrer no saber médico no século XX, quando a medicina passou cada vez mais a inserir a dimensão humana como fator decisivo para a compreensão das enfermidades, os médicos de modo geral continuam a associar o diagnóstico de uma doença a seu correlato orgânico. Escreve Nicolau (2008);

(...) no campo da medicina, quando não se encontra um referente orgânico da doença, o diagnostico fica essencialmente associado aos tipos clínicos decorrentes dos sintomas apresentados, abordando o tratamento das enfermidades psicossomáticas como uma patologia que se manifesta equitativamente. Assim, diante de uma lesão de órgão ou de uma dor que não se inscreve no discurso médico, são comuns os diagnósticos de “distúrbios neuro-vegetativos”,” stress” ou” doença psicossomática” e os pacientes já vem com um diagnóstico previamente estabelecido. (p.964).

A autora ainda cita que mesmo que o paciente não chegue a ter um diagnóstico pré-estabelecido, já ficam rotulados pelo médico; - “Você não tem nada. Vá ao psicólogo.”.

Fonseca (2007) escreve sobre a atenção que a Medicina passou a dar ao fenômeno, principalmente com o desenvolvimento das pesquisas sobre o câncer, e ao mesmo tempo, que tipo de demanda passa a ser construída a estes pacientes psicossomáticos;

Fonseca (2007) afirma;

(...) pesquisas importantes tem sido publicadas como a do Departamento de Saúde Pública da Universidade de Helsinque com 10.808 mulheres portadoras de câncer de mama admitindo que (...) “os eventos da vida e as reações psicológicas que os acompanham podem também aumentar o risco de câncer de mama” (...) e concluindo que o stress causado por fatores psíquicos pode interferir no aumento ou diminuição de secreção de vários hormônios e acelerar o desenvolvimento do câncer. Médicos, enfermeiras, assistentes sociais, profissionais psi, dedicam-se ao cuidado desse tipo de paciente, ás vezes chamado de “psicossomático”, que talvez seja o mais difícil que se apresenta para o tratamento, pelo fato do seu “mal” resistir aos cuidados que lhe são dispensados. (...) sua demanda é geralmente dedicada ao médico numa tentativa de certificação da causalidade física e principalmente, de uma terapêutica salvadora que lhe resgate a saúde e até mesmo a vida. (p.96)

Não resta dúvida de quanto inegável é a contribuição do campo da medicina psicossomática para a ampliação e revelação da complexidade deste fenômeno, o que inclusive serviu para apontar questões a serem investigadas pela Psicanálise. No campo médico é necessário elaborar e assimilar para a compreensão da psicossomática, as descobertas mais recentes da biologia molecular e da neuroimunologia, por exemplo. Neste aspecto ressalta-se a necessidade de refletir sobre os processos de que dependem estes sintomas em seus registros tanto somáticos quanto psíquico na singularidade de cada sujeito.

No adoecimento somático, o corpo passa a ser a grande referência daquele que sofre. A enfermidade que se apresenta ao analista, muitas vezes já nomeada pelo saber médico, regula a vida e os pensamentos do paciente. Este revela assim uma dificuldade muito grande em se desvencilhar, em dar novo sentido a seu sofrimento. Ai se pode perceber as barreiras para que estes pacientes possam se analisar, pois dificilmente conseguem subjetivar seu sofrimento, investindo constantemente na dimensão corporal.

Nicolau (2008) levanta questionamentos importantes para a Psicanálise; Que escuta oferecer quando a queixa se concentra no órgão doente ou na dor?

Como intervir nestes casos? Serão eles, invariavelmente, abordados a partir de um modelo pré-estabelecido e catalogados como somatização ou doença psicossomática? Como explicar esses fenômenos do ponto de vista do sujeito nele implicado? Qual a direção do tratamento quando este não vem pela via da implicação do sujeito com sua dor? (p.963)

Portanto, percebemos com a autora que há muito para se refletir sobre a clínica com pacientes portadores de distúrbios psicossomáticos, que caso se limite apenas aos fenômenos em si correria o risco de reduzir o sujeito a sua dificuldade.

A Psicanálise, com sua escuta dirigida á singularidade de cada sujeito, não aceita o deslocamento do sentido para o da causalidade, nem vai transpor uma causalidade orgânica em causalidade psicológica, pois em sua origem não se limita ao viés “médico-funcional”, nem focaliza o sintoma para estabelecer diagnósticos.

Mas, o que diz a Psicanálise sobre os processos e desdobramentos que conduzem á enfermidade psicossomática?

Na obra de Freud, as formulações que mais se aproximam do que se conhece atualmente como psicossomática estão em sua definição de neuroses atuais. Freud (1895/1987) mencionou um grupo de neuroses de transferência que se assemelham ás afecções psicossomáticas denominando-as neurose atuais e classificando-as em neurastenia e neurose de angustia. A neurastenia tinha origem na satisfação sexual realizada de forma inadequada e nas neuroses de angustia, o sujeito não obtém uma descarga de excitação sexual, produzindo angustia diante da relação sexual incompleta.

Em 1912, Freud sustenta que as neuroses atuais deveriam ser pensadas de forma diferente das psiconeuroses (histeria, fobias e neuroses obssesiva-compulsiva); “A prisão de ventre, as dores de cabeça e a fadiga do chamado neurastênico não admitem serem remontadas histórica ou simbolicamente, a experiências operantes, e não podem se compreendidas como substitutos da satisfação sexual ou como conciliações entre pulsões, como é o caso dos sintomas psiconeuróticos.” (Freud, p. 314).

Freud (1915) ainda trabalha outros conceitos que estão relacionados com a questão do corpo. No artigo “Sobre o Narcisismo; Uma introdução” menciona a distribuição, os destinos da libido e articula á doença orgânica, á hipocondria e ás neuroses atuais. No mesmo ano, em “Pulsões e seus destinos”, introduz a noção de prazer do órgão como modo de satisfação auto-erótica, parcial e sem objeto externo, onde a excitação se encerra no órgão próprio onde começou.

Importante salientar ainda que Freud, ao pensar sobre o corpo, acabou por desenvolver o conceito de conversão somática, que seria uma junção do psíquico e do físico remetendo a outra cena. Freud denominou conversão a uma manifestação somática idêntica ao desejo em que está em jogo uma satisfação substitutiva de uma fantasia de conteúdo sexual e onde esta outra cena fala do sujeito através de seu corpo.

Lacan (1954-1955/1985) trabalha a diferença entre o sintoma neurótico e o fenômeno psicossomático quando diz que o primeiro está enquadrado pela estrutura narcísica, visto que se acha organizado na relação com o outro enquanto o fenômeno psicossomático aparece como resultado do investimento da libido no interior do corpo.

Se o sintoma neurótico se encontra na identificação possível com o outro, o fenômeno psicossomático aparece como resultado do investimento sobre o órgão e não sobre um objeto, ou seja, é uma manifestação da pulsão em forma pura, ficando o órgão lesionado fora da constituição imaginária do eu. Podemos então, com Lacan, falar em curto-circuito na montagem pulsional onde o que entra em jogo na relação com o outro é o órgão, imagem especular do próprio corpo.

Lacan entende a psicossomática como fenômeno e não como sintoma na medida em que esta não comporta a intermediação simbólica, em uma aproximação direta com fenômenos psicóticos como o delírio.

No seminário “Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise” (1964-1965/1988), Lacan refere-se ao desejo do Outro, dizendo que o fenômeno psicossomático é fruto da indução significante, onde o desejo do Outro não aparece no sujeito como falta, sendo um desejo inquestionável que aponta para a falha do simbólico, um desaparecimento ou afânise, onde o sujeito aparece sempre representado por outro significante. Lacan (1964-65/1985); “A psicossomática é algo que não é significante, mas que, mesmo assim, só é concebível na medida em que a indução significante, no nível do sujeito, se passou de maneira que não põe em jogo a afânise do sujeito.” (p.215-216).

Esse fenômeno é resultado do fracasso do recalcamento primordial, ou seja, da marcação do Nome-do-Pai. Não há barra que incida e faça separação entre os significantes (Lacan os nomeou então significantes holofraseados). Assim, quando ocorre a “gelificação” da cadeia significante, pode se produzir não apenas a psicossomática, mas também a psicose.

Aqui podemos entender porque diversos teóricos lacanianos fazem aproximação entre a psicossomática e a psicose, principalmente porque Lacan apresentou uma série onde inclui a psicose, a debilidade mental e a psicossomática como resultante da holófrase, uma lógica que aponta para o congelamento dos significantes.

Guir (1988) conclui que o fenômeno psicossomático diz respeito a uma falha na função da Metáfora Paterna resultado de uma arranhadura na operação de castração; “O problema de fundo do fenômeno psicossomático é este: a metáfora paterna funciona em certos sítios do discurso e não em outros. Somente alguns momentos específicos do discurso provocam um desencadeamento no corpo.” (Guir, 1988, p.49).

Já Nasio (1993) afirma que o fenômeno psicossomático corresponde a uma formação do objeto a e não a uma formação do inconsciente. A doença estaria do lado das alucinações e da passagem ao ato, onde o Nome-do-Pai não se mantém, não oferecendo consistência ao sujeito.

Seguindo a linha de pensamento lacaniana, podemos pensar que quando o sujeito está petrificado pela doença, seu corpo se torna fonte ilimitada de gozo, apontando para um corpo onde, ao contrário da histeria de conversão, a palavra está como que desertada, não havendo uma escrita legível. Dizendo de outro modo, faltam palavras ao sujeito em psicossomática, daí percebe-se a carência e impossibilidade de associação livre em seus discursos e o investimento intenso no corpo, marcas também da diferença entre analisar um neurótico e um paciente psicossomático.

Dentre as demais idéias consideradas importantes no campo psicanalítico que tentam explicar a psicossomática estão as de Alexander, Grodeck, McDougall e a Escola Psicossomática de Paris onde se destacam Marty e M’Uzan.

Alexander (1952) postulou a idéia de que um “simbólico” estaria ausente na formação dos transtornos somáticos. Segundo este autor, a doença é conseqüência de emoções, impulsos não satisfeitos, desviados e reprimidos em um efeito direto dos afetos sobre o corpo.

Godreck (1991) defendeu a idéia de que o Id é o criador e todas as doenças, sendo estas originadas de um desejo, portadoras, portanto, de um sentido.Para ele, o adoecer orgânico é regido pelo processo primário e pelos mecanismos de deslocamento e condensação.

Para Marty e M’Uzan (1994), percebe-se no paciente psicossomático a pobreza da associação subjetiva, dificuldade no estabelecimento da transferência, limitação das capacidades simbólicas e carências de elaboração fantasística.

Marty (1993) aponta comportamentos automáticos e adaptativos, uma ruptura com o inconsciente e com a sexualidade, alienação da própria história, negligencia do passado e incapacidade de projeção para o futuro, o que Marty denominou Pensamento Operatório.

Ás dinâmicas afetivas específicas destes pacientes, Marty (1966) denominou Depressão Essencial, que diferente do que se percebe na depressão neurótica, no luto ou na melancolia, não denota nenhum trabalho de elaboração, uma depressão sem objeto que se constitui na essência mesma da depressão.

Já para McDougall (1983), existe a vinculação dos transtornos psicossomáticos á primeira infância, por isso estes pacientes não podem utilizar palavras como veículo diante do sofrimento. McDougall constrói uma definição do que acontece na psicossomática que ajuda a estabelecer sua diferença em relação á histeria e consequentemente á neurose. McDougall (1983) sustenta que essa explosão no corpo, que não é uma comunicação neurótica nem uma restituição psicótica, tem uma função de ato, de descarga, que provoca um curto-circuito no trabalho psíquico.

O curto-circuito que postula McDougall é importante então para estabelecer a diferença fundamental para a clínica psicanalítica entre psicossomática e a neurose. No fenômeno psicossomático não pode surgir o trabalho psíquico, a elaboração, em uma linha que se afasta consideravelmente do que postulou Godreck, por exemplo, e se alinha aos pensamentos conceituais propostos por Lacan, que já havia pensado a compreensão de um curto-circuito no aparelho psíquico.

Outro autor que merece referência é Dejours (1988). Este psicanalista francês aprofunda questões ligadas ás somatizações e ao pensamento operatório e constrói a hipótese da terceira tópica apoiado na idéia de uma dupla clivagem do sujeito, na qual, por um lado, se desenvolveria uma relação mediada pelo recalcamento e pelo pré-consciente e por outro, uma relação entre o “inconsciente primitivo” contido pela própria consciência e pelo pensamento lógico-conceitual.

Seguindo a linha de pensamento da escola francesa, Sami Ali (1995), no livro “Pensar o Somático-Imaginário e patologia”, enfatiza as Patologias de Adaptação nos pacientes psicossomáticos. Aponta ausência quase absoluta de sonhos, de sintomas neuróticos, de lapsos, de devaneios ou de atividade criativa, pouco contato com seus desejos, uma utilização empobrecida da linguagem além, de uma aderência extrema ao factual e á realidade material.

Na esfera da América Latina, uma contribuição a ser considerada é a do psicanalista argentino David Maldavsky (1992) que propõe uma leitura da afecção psicossomática como “Afecção Tóxica” relacionando o quadro a um mecanismo de defesa específico que denomina “Desestimação do afeto”.

Este mecanismo de defesa produz a desaparição do afeto sentido e tem a ver com a forma originária do desenvolvimento da consciência no sentido de qualificar os estados pulsionais. Maldavsky aponta que existem dois tipos de excitação: As químicas e as mecânicas, estando as primeiras vinculadas a neurose atual e a segunda ás neurose traumáticas.

Para Maldavsky, as afecções tóxicas tem a ver com o modelo das neuroses traumáticas pois estas são potenciais introdutores da tendência á inércia pulsional. Há então, no início, uma consciência primordial que se constitui como condição para o registro dos afetos e das percepções e sensações. É o primeiro aspecto organizador do psiquismo e que nas afecções tóxicas encontra-se alterado.

Psicoterapia psicanalítica de pacientes psicossomáticos

Com a análise das histerias aprendemos que certas manifestações corporais admitem uma leitura, pois expressam um discurso. Através do sintoma, torna presentes uma ausência que mantém o sujeito em equilíbrio e evita a angústia da aproximação com o desejo, aí então, inconsciente.

Isto posto, formam um sentido que, evidenciado ao sujeito, o liberta do sintoma, sintoma este “amarrado” em uma relação simbólica, isto é, a relação entre a representação recalcada e o produto consciente, o sintoma. Assim, falamos de um corpo neurótico. Nas manifestações psicossomáticas, já entendemos se tratar de outra coisa.

Santos Filho (1992), chama a atenção para o fato de que os pacientes psicossomáticos em geral não buscam tratamento de maneira espontânea e sim foram encaminhados por um médico clínico, por exemplo, o que faz a demanda ser mal definida. O autor afirma;

Enquanto o fenômeno neurótico nos faz pensar em uma relação de qualidade, mediado pela representação significante, o fenômeno psicossomático, com seu caráter de descarga, nos sugere uma relação econômica. (...) a impossibilidade precoce de inclusão da dor psíquica numa cadeia simbólica, nomeada e articuladora, que tornaria possível de ser vivenciada, cria uma desintegração potencial na unidade psicossomática. Esta, ao ver-se ameaçada por uma perda, por exemplo, propicia o surgimento no corpo da manifestação de descarga-ato, que são os sintomas psicossomáticos. (p. 355)

Santos Filho (1992) faz também uma sintetização da psicossomática para nortear os aspectos técnicos da psicoterapia;

Admite uma diferença da histeria na medida em que no fenômeno somático não se consegue avançar pelos mesmos meios de acesso.

A via biológica admite uma história, mas é ligada a vivencias traumáticas.

É uma via anatômica com seu substrato fisiopatológico.

Relaciona-se com as noções de descarga e ato, fazendo-nos encará-la mais do ponto de vista metapsicológico econômico do que dinâmico.

Tem como correlato o pensamento operatório e a aprendizagem como meios de ligação e controle das possíveis desorganizações internas e externas, no lugar da articulação associativa simbólica.

É possível ser pensada como curto-circuito, devido á insuficiência mediadora do pré-consciente.

Como conseqüência, é melhor equacionada na primeira tópica, enquanto os processos neuróticos o são pela segunda tópica.

Relaciona-se á supressão e á clivagem do ego.

É desencadeada por um acontecimento da ordem da perda ou equivalente.

Esta perda não é relacionada pelo sujeito ao fenômeno e em geral é minimizada e “bem tolerada”.

É uma via estabelecida precocemente, geneticamente antes do advento da palavra como organizador simbólico, ou seja, se estabelece em um período pré-verbal, relacionando-se á diferenciação eu - outro, á organização do sentimento de ser e de existir. Pode ser pensada como uma via que protege, anacronicamente, o sujeito de angústias dessa época, portanto angústias de aniquilamento ou psicóticas.

Constitui-se sobre falhas nas relações primordiais, notadamente com a mãe ou substituto. (p.356)

Nas primeiras entrevistas com pacientes psicossomáticos percebe-se que estes não buscam uma subjetivação e sim uma necessidade de relação humana mais próxima, de função imaginária, que consiga minimizar a intensidade das angústias e das ameaças de desintegração. Sobre isto escreve Santos Filho (1992);

O que há de singular nestas entrevistas? Inicialmente a demanda, que é fornecida por um outro e é aceita ou “aprendida” pelo paciente. Funciona como se fosse uma receita ou pedido de exame complementar. (...) Há um pedido inicial de algo concreto, objetivo, algo que possa ser aprendido, ensinado e não desvendado, descoberto. (p.357)

Com o exposto pelo autor, não há então, o que descobrir. Notamos uma dissociação absoluta entre o acontecimento traumático e os sintomas corporais que nos leva a considerar a primeira grande ação terapêutica quando do atendimento de pacientes psicossomáticos; a reconstituição histórica como enfatiza Santos Filho (1992);

Ai reside nossa tarefa primeira: a reconstituição histórica, a cronológica e a integração entre datas, acontecimentos e eclosões somáticas. Isso pode dar ao paciente uma primeira consciência da relação de seus sintomas com algo maior, de caráter existencial e ajudar a criar um sentido inicial e uma noção da razão de ser do tratamento. (p.357)

O mesmo autor considera importante este aspecto da reconstituição histórica também para alertar sobre como se conduz o tratamento com o paciente psicossomático. Tal perspectiva demarca ainda mais a diferença para o terreno da neurose. Escreve Santos Filho (1992);

Se o analista fica em silêncio esperando o sentido brotar das associações livres tem uma amarga surpresa. Não brota sentido. Há também o silencio, forma-se um clima de incompreensão, de surpresa, decepção e comumente interrompe-se o tratamento. Admitida esta presença viva, constante, falante, questionadora e ativa do analista como algo necessário, é fácil imaginar que esta psicoterapia deve ser conduzida face a face e não com o paciente em posição deitada. (...) O paciente psicossomático não está em Tebas, á beira de um oráculo, á espera de decifração. Ele está em busca de uma relação humana, interpessoal, que possa ajudá-lo a constituir-se mais plenamente como sujeito e, quem sabe, um dia possa até desejar buscar um oráculo. (p. 357)

Volich (1998) ciente da diferença entre a condução de análise de um neurótico e de um paciente psicossomático, defende uma visão ampla, onde somente a compreensão psicológica é insuficiente. Acredita que o fenômeno exige uma abordagem multiprofissional, devendo haver interlocução de saberes. Escreve Volich (1998);

Em função de tudo isso, a prática da psicossomática não pode se restringir a uma atividade de consultório particular. Para que estas trocas e a função de interlocução sejam possíveis, é necessário que ela seja exercida em conjunto com outros profissionais, em um contexto institucional, de saúde, de educação, e mesmo empresarial, em enquadres interdisciplinares. (p.19)

Volich (1998) também enfatiza a importância da mentalização do pensamento e dos afetos como elemento regulador essencial para uma adequada condução do trabalho terapêutico. Partindo da compreensão de uma perspectiva econômica, onde se infere que o organismo tem basicamente três vias de descargas de suas excitações, a saber, a via orgânica, a ação e o pensamento, para este autor é evidente qual a via usada pelo paciente psicossomático e que a mentalização é o recurso que precisa ser oferecido aos pacientes;

Compreendemos assim a função e a importância atribuída pela Psicossomática Psicanalítica ao aparelho mental, á mentalização do sujeito como reguladores da economia psicossomática. A mentalização consiste em operações simbólicas através das quais o aparelho psíquico garante a regulação das energias instintivas e pulsionais, libidinais e agressivas. A atividade fantasmática, o sonho, a criatividade são atividades essenciais ao equilíbrio psicossomático. A estruturação ou o funcionamento deficiente do aparelho psíquico traz como conseqüência a utilização de recursos mais rudimentares, da ordem da motricidade ou mesmo das reações orgânicas, como meios de regulação da energia do indivíduo. (p.15)

A mentalização se constituí então como o início de um processo de construir conjuntamente ao paciente psicossomático um acesso ao mundo simbólico que lhe falta. Neste sentido o terapeuta está na necessidade de verbalizar, de propor assuntos, de colocar questões e de responder ás do paciente, de abrir vias e caminhos que o paciente não consegue abrir sozinho.

Sabattini (2008) dentro da perspectiva psicanalítica escreve que;

El psicoanalisis há ido diferenciado um campo especifico para la afeccion psicosomatica. Para ello ha debido producir a partir de la investigacíon de los fenómenos, um cuerpo teórico novedoso, una nueva lectura diríamos de los esquemas intervenientes. Han surgido sub especialidades como la psicooncologia, la psicocardiologia, la psicodermatologia, etc.

Se consideraron desarrollos de otras ramas de la salud y también de la psicología de la salud. Tal el concepto de vulnerabilidad psicosomática. Podríamos decir que se ha hecho hincapié en lo temprano del desarrollo evolutivo que es hacia donde confluyen las problemáticas del narcisismo, y dentro de ellas, la psicosomática. Lo temprano y su vehículo, la díada primiaria, requiereron de mayores presiciones. (p.14)

Assim, o desenvolvimento das intervenções psicanalíticas no terreno do fenômeno psicossomático está atrelado a toda uma gama de estudos que inevitavelmente remete á compreensão dos vínculos objetais primitivos da criança, aquilo que já se sabe relacionadas á fase pré-verbal. Neste sentido outros psicanalistas como Bion e seu conceito de revérie materna, Winnicott e a função de holding e Spitz e a função materna introjetada, estudos voltados basicamente para a díade mãe-filho, tornam-se requisitos essenciais.

Considerações Finais.

Fica evidente que a direção do tratamento com pacientes psicossomáticos traz a necessidade de pensar a diferença do fenômeno em relação á neurose. Se nos pacientes neuróticos a “interpretação simbólica” tem o efeito sutil de por a mostra um sentido oculto, desconhecido para o paciente tal como uma metáfora, não vemos a mesma possibilidade com os pacientes psicossomáticos.

A interpretação, tal qual a entendemos para a psicanálise de neuróticos, deve ser evitada no trabalho com psicossomáticos. Como nestes pacientes, sua condição se estabelece em uma fase pré-verbal, fica fácil imaginar a fragilidade pessoal com a qual lidamos a realizar a análise com eles. Daí a compreensão de que não é de um oráculo que eles precisam em terapia e sim de algo que se aproxime mais de uma relação interpessoal.

Assim, estas psicoterapias acabam por exigir muito mais do analista. Exigem tempo maior, paciência e uma disponibilidade interior de se colocar nesta posição que em muito difere da posição diante do neurótico.

Os pacientes psicossomáticos relacionam-se mais com as disposições verdadeiras, reais do analista como pessoa. Muito mais do que com as palavras que o analista diz, embora seja por meio das palavras do analista, em sua forma claramente sugestiva, que o paciente terá alívios em momentos de maior angústia.

Deste modo, será através do pré-consciente do analista que se poderá organizar a capacidade simbólica do analisando. Ao analista caberá colocar as palavras que faltam ao paciente e por meio das suas características pessoais, ofertar uma relação de suporte e construção para o psiquismo do paciente. Enfim, um trabalho árduo, lento e cuidadoso, no qual, mais do que em qualquer outro trabalho analítico, a intuição e os afetos do analista e não sua inteligência forma o norte para se alcançar alguma transformação em um fenômeno que insiste em se dar em um único lugar: o corpo.

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