ALGORÍTMO DAVID LIBERMAN (ADL) COMO MÉTODO DE PESQUISA PSICANALÍTICA
* Zeno Germano
Resumo: Este artigo pretende conceituar introdutoriamente o método Algoritmo David Liberman (ADL) de análise do discurso em sua perspectiva psicanalítica. Parte da origem dos trabalhos de David Liberman, associando estilos de comunicação á teoria da libido de Freud, até os desenvolvimentos posteriores propostos por David Maldavsky, construindo e solidificando o método a partir dos conceitos de pulsões e defesas psíquicas.
Palavras-Chave: Método, Psicanálise, Discurso, Defesas.
DAVID LIBERMAN ALGORITHM (DLA) WHILE PSYCHOANALYTICAL SEARCH METHOD IN DISCOURSE ANALYSIS.
Abstract: This introductory article seeks to conceptualize the David Liberman Algorithm (DLA) method of discourse analysis in his psychoanalytic perspective. Start from the orign of the work of David Liberman, involving communication styles will libido theory of Freud by subsequent developments proposed by David Maldavsky building and solidifying the method based on the concepts of drives and psychic defenses.
Key-Words: Method, Psychoanalysis, Discourse, Defenses.
O Método de Análise do discurso Algoritmo David Liberman (ADL) se constitui como possibilidade de oferecer ao pesquisador os instrumentos para compreender, segundo o pensamento psicanalítico, a dinâmica psíquica inconsciente. Ou seja, pulsões e mecanismos de defesa dos sujeitos por meio da linguagem verbal em seus relatos, frases e palavras constitui o interesse do método.
Em Psicanálise as investigações clínicas têm sido usadas para desenvolver hipóteses teóricas no estudo de condições psicopatológicas, para fundamentar propostas de abordagens terapêuticas ou apenas para avaliar resultados. Paralelamente sempre há polêmicas sobre questões metodológicas e epistemológicas, como os ainda comuns questionamentos sobre ser ou não a Psicanálise uma ciência.
Outro aspecto costumeiramente presente nos discursos psicanalíticos, recai sobre as diferenças entre a corrente anglo-saxã de se fazer psicanálise e a corrente francesa. A primeira recorre a instrumentos e métodos para analisar as sessões, porém cada vez mais é uma corrente afastada da metapsicologia freudiana e voltada para intervenções de adaptação do ego ao meio ambiente. A segunda repele tais instrumentos e acredita apenas no que acontece dentro da própria sessão analítica (as relações transferenciais) como meio de análise e interpretação.
Preocupado em garantir a validade metodológica, principalmente em seus objetivos de pesquisa qualitativa, o método oferece a manutenção da teoria metapsicológica freudiana, sistematizando seu conteúdo de forma a não esvair sua riqueza subjetiva e intersubjetiva garantindo a análise do singular (como os estudos de caso único, por exemplo) mas também se organizando quantitativamente por meio de instrumentos como grades específicas e uma análise por meio de dicionários computadorizados. Configura-se assim enquanto método essencialmente quantitativo-qualitativo.
O ADL inicialmente foi aplicado ás problemáticas de ordem clínica, psicoterápicas, onde se preocupa basicamente com a dinâmica inconsciente dos pacientes em análise e/ou com o desenvolvimento da análise a partir da relação analista-paciente, enfatizando o sentido intersubjetivo do trabalho analítico. Entretanto, nos últimos anos, o método está sendo aplicado também a outros campos da cultura, como a análise de novelas, situações políticas ou obras de arte.
Origens Históricas.
Para o adequado entendimento do que é o método ADL, precisamos nos remeter ás origens históricas deste. Aqui temos que falar do psicanalista argentino David Liberman, que durante as décadas de 60 e 70 desenvolveu uma série de estudos que culminaram nas condições teóricas para o advento do método em questão.
Sobre Liberman escreveu Aronis (1995);
David Liberman se considerava alguém que colocava a pesquisa em Psicanálise como o alvo de seus interesses. Inconformado coma lacuna existente entre os conceitos teóricos com grandes níveis de abstração e o que ocorria na prática clínica diária, mantendo distantes a metapsicologia, a técnica e a teoria da técnica, propõe uma reformulação da psicanálise sobre a base da evolução do diálogo psicanalítico, concedendo á sessão analítica um papel central como método e objeto de indagação. (p.17)
Liberman (1970) estudou os estilos comunicativos dos sujeitos falantes com um enfoque psicanalítico e basicamente defendia que cada paciente apresentava estilos de comunicação onde haveria alguns estilos predominantes. Estes estilos seriam indicativos da organização psicopatológica dominante no psiquismo de cada paciente.
Liberman tinha ampla noção que o conceito de estilo envolvia um valor intermediário entre a teoria e a clínica psicanalítica. Em um primeiro momento esbarrou na compreensão de que não se remeteria a um paciente concreto, pois este teria em sua dinâmica psíquica, vários estilos simultaneamente. Em um segundo momento conectou o conceito de estilo a conceitos teóricos do campo freudiano; a fixação pulsional e os mecanismos de defesa.
No desenvolvimento de seu trabalho, Liberman estabeleceu nexos entre os estilos comunicativos, as estruturas clínicas e os pontos de fixação libidinal descritos por Freud ao longo de sua vasta obra e por Karl Abraham no livro Teoria Geral da Libido em 1927; fases oral primária e secundária (O1 e O2), anal primária e secundária (A1 e A2), fálico uretral e fálico genital ( F1 e F2).
Aronis (1995) escreve;
As denominações de “pessoa” demonstrativa, atemorizada ou fugidia, lógica, de ação, depressiva, observadora-não participantes e infantil exprimem em cada um destes tipos as características específicas de comportamento na situação analítica, fatos que são determinados pelo ponto de fixação da libido predominante (segundo Abraham) para o qual o paciente regressa ao se estabelecer a transferência. ( p.17)
Liberman pensa que para construir uma teoria em psicanálise tem que partir do fenômeno da transferência em seu conceito operacional. Entretanto considera inadequado ampliar o termo transferência para qualquer tipo de comportamento fora da sessão, considerando assim a sessão como único campo de observação e experiência.
Escreve Liberman (1970/2009);
Según mi punto de vista ( y sé que no soy el único en nuestro medio que piensa así), para construir teorías hay que partir de la transferencia. Ahora bien, para llegar a explicar todo lo que comprendemos sobre transferencia en la práctica psicoanalítica, se debe tomar como punto de partida todo lo que emana del conjunto de contantes y variables que forman un contexto total que llamamos situación analítica.
(…) Para lograr una comprensión integral de los fenómenos transferenciales, de be considerárselos como estructuras de comportamiento resultantes de las motivaciones inconscientes que están operando en un momento dado y de factores provenientes del método psicoanalítico (regla fundamental, horarios, honorarios, la posición decúbito, la actividad inconsciente del terapeuta, etc.). (p.73)
Liberman escreve ainda que enfocando o problema desta maneira, se deve tomar como material de observação o curso de todo o tratamento psicanalítico, ou um conjunto de sessões ou uma sessão apenas, assim como fragmentos de uma única sessão ou fragmentos de várias sessões. Em suma, a pesquisa psicanalítica está atrelada ao que acontece na própria sessão entre seus envolvidos, analista e analisando.
Liberman estudou durante vinte anos a linguagem dos pacientes como expressão das fixações pulsionais. Esta sua tentativa de reunir a teoria com as manifestações parte de uma proposta dedutiva e neste sentido se diferencia de outras propostas caracterizadas como meramente indutivas.
A maioria dos métodos sistemáticos de análise do discurso parte de uma orientação indutiva e pragmática, motivo pelo qual não é fácil estabelecer um caminho de nexo com a metapsicologia freudiana. Liberman não abriu mão da metapsicologia.
Liberman recorreu aos instrumentos que possuía conceitualmente á época, no campo lingüístico e semiótico, tanto para justificar quanto para descrever sua categorização dos estilos. Também realizou estudos clínicos dos discursos de vários pacientes. Neste sentido Maldavsky (2007) escreve;
Por un lado, apeló a la descripción de Ruesch (1957) de los estilos de comunicación para presentar su enfoque general, a las ideas de R.Jakobson (1960) sobre los factores y las funciones del discurso para precisar qué rasgo el paciente enfatiza, a las de N.Chomsky (1965) para formalizar el estudio sintáctico del discurso en el nivel de la frase, al enfoque de Pitenger et al.( 1960) para investigar los rasgos fonológicos de los pacientes, etc. Por otro lado, recurrió a la perspectiva de la pragmática de la comunicación humana (…) para destacar cómo el paciente usa su discurso en la sesión ante el terapeuta. Liberman se esforzó por utilizar estos conceptos para avanzar en desarrollo de la investigación clínica sistemática. (p. 26)
.
Como citado, Liberman foi influenciado por autores como Ruesch (1957) e sua teoria geral de comunicação, Jakobson (1960) e sua idéias sobre fatores e funções do discurso, além de Chomsky (1965) que realizou estudos sintáticos do discurso a nível de frases e Pittenger (1960) que abordou os aspectos fonológicos dos pacientes. Todos estes autores foram importantes no campo da lingüística e da semiótica.
Sobre a influência de Ruesch no trabalho de Liberman, Aronis (1995) escreve;
Quando pretere a classificação de Fenichel da nomeclatura psicanalítica clássica, baseada nos enfoques histórico-genéticos, pela de Ruesch, baseada nos fenômenos da comunicação, ele define a direção que passará a dar á sua pesquisa. (p.17)
Assim, torna-se necessário construir uma lógica de observação de cada sessão. A Semiótica forneceu a Liberman esta possibilidade quando este escreve que o manejo dos sinais e mensagens do analisando se dá em três campos: o campo sintático, o campo semântico e o campo pragmático.
Pacientes com perturbações na comunicação a nível sintático seriam os histéricos, fóbicos e obsessivos compulsivos. Para Liberman (1970/2009);
Estos analizandos, a los que yo denomino pacientes com perturbaciones a predomínio sintactico, tienen, puesto que se comprometen com lo que dicen, dificultades para realizar y mantener emisiones verbales com um grado óptimo de gramaticalidad.
En estos pacientes notamos interrupciones, câmbios de plan, establecimiento de falas conexiones y, por sobre todas las cosas, lagunas em las construcciones verbales y también en la forma com las emiten. (p.564)
São então, pacientes descritos como apresentando discursos de estilo narrativo, dramático ou de impacto estético. Os pacientes dentro destes estilos de comunicação, são os mais acessíveis á abordagem clássica da psicanálise, pois se submetem melhor a regra fundamental da associação livre.
Os pacientes de comunicação pragmática são descritos pro Liberman como sendo os psicopatas, os de caráter perverso ou ainda os psicóticos, que apresentam uma dificuldade considerada a se submeterem a regra psicanalítica, apresentando ainda interesses distintos ao de se tratar ou podem buscar manipular a relação analítica.
Já os de predomínio semântico são pacientes que apresentam discursos desconectados ao mesmo tempo em que parecem estar associando adequadamente. Tal situação costuma gerar confusão no próprio analista que ao crer que está psicanalisando este paciente, percebe que não está fazendo nada. São pessoas esquizóides, ciclotímicas, psicossomáticos e hipocondríacos.
Trabalhando junto com Liberman, Maldavsky desenvolveu mais ainda os estudos iniciais que articulavam os estilos comunicativos aos aspectos psíquicos. Maldavsky iniciou os estudos de análise de frases, formalizou a sistematização do ideal do ego como uma expressão de cada erogeneidade e construiu maiores precisões ás descrições de cada estilo.
Aspectos gerais do Método ADL.
O Algoritmo David Liberman (ADL) foi criado e depois desenvolvido para investigar o discurso a partir da perspectiva psicanalítica freudiana e tem como objetivo detectar as pulsões e defesas expressas por meio da linguagem. Em outras palavras, do que fala e como fala um sujeito, é a preocupação do método, assim como é essência da própria psicanálise. Os níveis de linguagem aparecem para análise como palavra, frase e relato.
As pulsões que podemos trabalhar no método são as mesmas que Freud em sua obra inicialmente postulou quanto ao desenvolvimento da libido, porém acrescida de uma a mais; São elas: Pulsão Oral Primária (O1), Pulsão Sádico Oral Secundária (O2), Pulsão Sádico Anal Primária (A1), Pulsão Sádico Anal Secundária (A2), Pulsão Fálico Uretral (F1) e Fálico Genital ( F2).
A que devemos acrecer é chamada de Libido Intra-Somática (LI), que de acordo com Maldavsky (2004); “...ha sido mencionada por Freud (1926) solo de paso, al afirmar que en el primer momento de la vida posnatal los órganos internos (sobre todo corazón y pulmones ) reciben una fuerte sobreinvestidura libidinal.” (p.15).
Fixações da libido nesta fase são os indicativos psíquicos de pacientes psicossomáticos e de dependentes químicos, que trazem em suas dinâmicas psíquicas a dificuldade de associação livre verbal. Ora, a libido intra-somática é um estágio anterior a qualquer construção de palavra na criança, sendo então anterior à própria fase oral.
Quanto aos mecanismos de defesa psíquica, o método distingue algumas defesas que são centrais: a repressão, o desmentido, desestimação da realidade e da instância paterna, desestimação do afeto, a sublimação e a criatividade. Além destas defesas centrais, adiciona outro grupo denominado de defesas complementarias; entre elas a identificação, a projeção, a anulação, negação, dentre outras.
Escreve Maldavsky (2007);
Los instrumentos para la investigacíon de la erogeneidad parten del supuesto de que esta se expressa
A compreensão dos aspectos abordados pelo ADL, significa considerar que ao invés de pensarmos os sujeitos analisados como estruturas clínicas unitárias fixas (seja meramente neurótico, psicótico ou perverso, para falarmos em termos lacanianos), devemos considerá-los como um conjunto de erotismos e defesas psíquicas que em suas dinâmicas podem apresentar mudanças nestes estados e mesmo apresentar a coexistência de manifestações psíquicas inicialmente diferentes.
Sobre este ponto Maldavsky ( 2004) escreve:
A veces nos encontramos com uma contradiccíon entre dos análisis de las frases: uma misma defensa puede aparecer, em um momento, como normal y em outro, como patógena. También puede ocurrir que uma misma defensa patógena aparezca por momentos como exitosa y em otras ocasiones, como fracasada. En realidad, no se trata necesariamente de un conflicto en el cual debamos optar por una o por otra alternativa. Puede ocurrir que el análisis detecte variaciones en la defensa, que pasa de normal a patógena o viceversa, o variaciones en la defensa patógena, que pasa de exitosa a fracasada o viceversa. (p.33)
Com o exposto até aqui, vamos afirmar que o método ADL se interessa por estudar as cenas, tanto as relatadas por um paciente, por exemplo, como as atuadas na sessão ante o analista e também as posições daquele que fala nestas cenas. O método então pretende detectar as pulsões e defesas em jogo por meio das variações que podem ocorrer em sessões diferentes ou em fragmentos de uma sessão.
Neste sentido é importante frisar que o método pode estudar a relação intersubjetiva proveniente do trabalho entre analista e paciente quando se tratar de clínica. Estudamos não apenas o discurso dos pacientes como também o dos próprios terapeutas através de uma análise de suas intervenções no processo analítico. Neste sentido temos que recorrer á gravação das sessões analíticas, lembrando que deverá ter o consentimento do paciente.
Maldavsky (2004) ressalta que há tipos de análise da erogeneidade assim como instrumentos diferenciais; Quando se trabalha com relações extratransferenciais, o instrumento adequado é a grade de relatos. Quando se trabalha com relações transferenciais o instrumento deve ser a grade de frases. Por fim, se trabalhamos a valoração crítica dos resultados das análises de relatos e frases (redes de palavras), passamos aos programas de computador.
O método prevê as grades e o programa de computador que se constitui em um dicionário computadorizado que por meio de uma rede de palavra as correlaciona com as pulsões e as defesas do ego. Tanto um quanto outros são as ferramentas que permitem analisar o material verbalizado.
O uso do dicionário computadorizado apresenta algumas dificuldades que não passam despercebidas por Maldavsky (2004);
Pese a su evidente utilidad em la investigacíon, el desarrollo de tales diccionarios se topa com diversas dificultades. El primer problema reside en el criterio para agrupar las palavras. La ubicación de las palabras en categorías parece dificultar-se además por el echo de que un mismo término suele tener varias significaciones, a veces contradictorias. Así, pues la creación de un diccionario suele presentar al menos un doble problema: cómo definir las categorías para agrupar las palabras, cómo resolver la cuestión de la polivalencia semántica de cada término. (p.69)
Maldavsky aponta que muitas das dificuldades do dicionário computadorizado acontecem pela ampla possibilidade das palavras terem diferentes valores dependendo do contexto em que se use e ainda a questão de significados a partir de metáforas, ambigüidades e outros recursos retóricos. Neste sentido a própria questão de utilizar o programa computadorizado em sujeitos que falam português e não espanhol ou castelhano, faz com que consideremos a necessidade de tradução e devidas contextualizações das redes de palavras originalmente criadas para a análise.
Com os estudos de relatos de pacientes podemos com o método detectar as fixações pulsionais e investigar as características de certas estruturas psicopatológicas. É o caso das histerias de conversão e demais características histéricas onde predomina a pulsão de tipo F1 ( Fálico genital), em histerias de angústia e fobias onde o predomínio é de F2 ( Fálico uretral ), neurose e caracteriopatias obsessivas, com tendência pulsional Sádico anal secundário ( A2), em caracteriopatias perversas e transgressoras além de paranóicas, temos o erotismo sádico anal primário ( A1), em sujeitos depressivos ou psicóticos maníacos depressivos temos o erotismo oral secundário (O2), esquizóides e esquizofrênicos em erotismo oral primário (O1) e por fim, sujeitos adictos, psicossomáticos e traumatizados remetem ao erotismo da libido intrasomática ( LI).
Os relatos contêm basicamente; um estado inicial de equilíbrio que é alterado por uma primeira transformação que corresponde a um despertar de desejo latente. Logo ocorre uma segunda transformação que é inerente a tentativa de consumação e uma terceira transformação que inclui as conseqüências da terceira tentativa até o estado final. Este trâmite constitui a matriz das seqüências narrativas; ou seja, dois estados, um inicial e outro final e no mínimo três transformações.
Importante frisar que; Como os relatos permitem realizar uma análise dos fenômenos extra-transferenciais, se consegue por meio deles uma compreensão do contexto geral da dinâmica psíquica do sujeito enquanto que, com a análise de frases, há um escopo transferencial enfocando o que o sujeito fala em sessão na relação com o terapeuta. A compreensão é mais específica, podendo também remeter á figura do terapeuta e sua subjetividade.
Neste ponto, o método valoriza a análise por meio das estruturas-frase como expressão do erotismo; Maldavsky escreve (2004,p.99) “... nuestro interese se centra no en las historias narradas por el paciente, sino en las escenas efectivamete desplegadas durante la sesíon, durante el intercambio discursivo.”
Para investigar as cenas especificamente atuadas ao falar, afirmamos que é fundamental e necessário prestar atenção ás estruturas-frase. Aqui, interessa ao pesquisador uma frase que expresse a subjetividade de quem a profere: se objeta, reflexiona, exagera, dramatiza, se interrompe a frase por impaciência, se expressa emoções, etc.
Ao mesmo tempo, é reconhecido que falta uma tradição psicanalítica da análise de frases, o que se configura em certo prejuízo para a sistematização, que agora tenta ser sanada por meio da construção conceitual das estruturas-frases no Método ADL.
A análise das frases torna possível inferir e refinar a investigação da transferência e da contratransferência em uma sessão com um sujeito falante, tornando-se um caminho analítico diferente da análise dos relatos, que como já mencionamos trabalha com inferências extra-transferenciais.
Seja qual for o interesse do pesquisador, a relação transferencial ou a relação extra-transferencial, em ambos os terrenos o método trabalhará com a investigação das fixações pulsionais e os estados psíquicos de defesa. Escreve Maldavsky (2007);
Los instrumentos para la investigacíon de la erogeneidad parten del supuesto de que esta se expresa
(…) la investigacíon de la defensa es posterior a la detección de la fijación pulsional dominante. Partimos de la siguiente propuesta: si la escena permite detectar la erogeneidad, la posición del hablante den dicha escena permite detectar la defensa. (p. 31)
Além do estudo das pulsões presentes nos discursos, o ADL se interessa também pela compreensão de como funcionam as defesas psíquicas inconscientes presentes no sujeitos. As defesas são então compreendidas como destinos da pulsão e Maldavsky (2001) enfatiza que não podemos separar a compreensão dos mecanismos de defesa das manifestações pulsionais;
El análisis de la defensa es inseparable de la consideración de la erogeneidad a la cual aquella se enlaza, así que, en el orden global de los procedimientos metodológicos, el examen de las manifestaciones para discernir cuál és la pulsión sexual eficaz es prioritario, y el de la defensa corresponde a un paso ulterior. Entre las defensas, sólo consideramos aquí las dominantes: represión, desmentida, desestimación de la realidad y de la instancia paterna, desestimación del afecto. Todas ellas pueden ser normales (funcionales) o patógenas. (p. 20)
A partir da Psicanálise, o método expressa que entre os tipos de defesa psíquica, a repressão se entrelaça com as pulsões sádico-anal secundária, fálico-uretral e fálico-genital. A desmentida e a desestimação da realidade e da instância paterna se entrelaça com a pulsão oral-primária, sádico oral-secundária e sádico-oral primária e a libido intra-somática está relacionada a uma desestimação de afeto.
Assim, a investigação clínica em psicanálise tem na questão dos mecanismos de defesa um papel central. Maldavsky (2001, p.206) escreve que quando procuramos propor mudanças psíquicas em um paciente, apontamos para as mudanças oriundas das transformações ocorridas com as defesas.
Maldavsky (2001, p.221) salienta que para se analisar as defesas, deve-se escutar no discurso do sujeito manifestações como um aumentativo, um diminutivo, um corte na oração, um grito, um sussurro, um lamento ou uma reprovação. Tais formas de expressão verbal são alguns indicativos dos tipos de defesas psíquicas presentes no sujeito.
Marco Teórico: Psicanálise e Subjetividade.
Para uma adequada compreensão do ADL, torna-se fundamental a leitura sistemática e aprofundada da Psicanálise Freudiana, marco teórico do método que fundamenta todo o arcabouço conceitual utilizado na absorção e aplicação do método em contextos discursivos.
Em Pulsão e seus destinos (1914), Freud estabelece o conceito de pulsão, apresenta as pulsões do ego ou autopreservativas e as pulsões sexuais como manifestações essenciais da vida humana e enfatiza que existem vicissitudes pelas quais as pulsões passam ao longo do desenvolvimento humano. Estas são as defesas psíquicas.
A construção do conceito de pulsão em verdade, começa a ser delineado em Três ensaios para uma teoria da sexualidade (1905). Nesta obra aparece a pulsão sendo compreendida a partir da criança e seu desenvolvimento por fases, de recém nascido a adolescência. Nesta mesma obra já aparecem também conceitos de mecanismos de defesa como a formação reativa e a sublimação.
O Ego e o Id (1923) é uma obra freudiana que traça as diferenças entre consciência e o sentido de inconsciente que organiza o pensamento psicanalítico para a compreensão do homem, assim como estabelece a famosa 2º tópica; Id, Ego e Superego, apresentando a compreensão de que o ego e o superego também são em grande parte inconscientes. Nesta obra, assim como em O inconsciente (1914), é possível percebermos a idéia de que o homem é guiado por manifestações pulsionais que lhe chegam de forma indireta e que não temos acesso senão por meio de derivados mentais, presentes por meio basicamente da linguagem.
A predominância do inconsciente por meio da linguagem já surge em Freud na obra Psicopatologia da vida cotidiana (1901), quando leva em consideração os lapsos de fala, esquecimento de nomes e troca de palavras como tendo em si um significado subjacente ao discurso manifesto consciente e em O chiste e sua relação com o inconsciente (1905) quando estuda o aspecto cômico nos discursos como manifestação do inconsciente.
A preocupação que norteia o método ADL converge diretamente ao estudo do subjetivo a partir da compreensão freudiana.; Kazez (2008) escreve sobre a preocupação em conceituarmos adequadamente a subjetividade:
Comencemos entonces a definir a qué nos referimos cuando hablamos del origen de la subjectividad. Este problema puede ser considerado desde la perspectiva freudiana ao menos desde tres concepciones (Maldavsky, 1997): la de la oposición actividad-pasividad (1915c), la de la identificación primaria (Freud, 1921c) y la de la consciencia inicial (1950a en Projecto de una Psicología para neurólogos), que intentan explicar cómo se constituye la subjetividad. (p.02)
Kazez (2008) cita obras de Freud como Pulsões e seus Destinos e Psicologia das massas e análise do eu para especificar que nestes trabalhos estão estabelecidos, respectivamente, os conceitos de pulsão e a oposição atividade-passividade (os chamados pares de opostos) e também a conceituação da identificação primária, constructos essenciais para a construção da subjetividade.
Escreve Kazez (2008);
Em síntesis, los procesos subjetivos se originan en el empuje pulsional, que en el encuentro con la subjetividad ajena, culmina en el desarrollo de una cualidad en la conciencia de donde derivan los afectos y el universo representacional. Los procesos subjetivos tienen su punto de partida en el enlace entre la libido y las percepciones, y comienzan a desarrollarse con el surgimiento de la conciencia, que solo puede dar-se en el encuentro con semejantes con una postura empática Los afectos representan una particular ligadura del incipiente sujeto con sus propios procesos pulsionales. (p. 132)
A autora também salienta, no mesmo trabalho, que a linguagem não é a única forma de expressão dos processos subjetivos nos sujeitos e que a percepção, a motricidade e a especialidade são também modos de expressão das pulsões. A diferença está no fato de que como a fala aparece na maioria das pessoas; “ (...) permite acceder de um modo más preciso ao estudio de los recursos implementados para el procesamiento pulsional y de la posibilidad individual de ajuste de los imperativos de la realidad y de la instancia critico-valorativa” (p.133)
Sobre a noção de subjetividade, Maldavsky (2007) escreve;
Em efecto, la noción de subjetividad contiene además un segundo rasgo, consistente en el desarrollo de una función de la conciencia originaria, la cualificación. Los contenidos de la conciencia originaria son, para Freud (1950a), las impresiones sensoriales y los afectos, entre los cuales estos segundos son los primordiales y dotan de significatividad a las primeras. (p.17)
Maldavsky (2007) conclui também que a capacidade de sentir os afetos não está presente em todos os sujeitos o que significa dizer que nestes casos há um prejuízo da subjetividade;
La capacidad para sentir los estados afectivos, su matriz, es uma conquista que se logra tempranamente, em la medida em que ciertas disposiciones yoicas se encuentran com um ambiente empático. El afecto es uma forma de cualificar, de hacer concientes los procesos pulsionales y al mismo tiempo, em la medida em que es consecuencia de la empatía de los progenitores, también es un forma de estabelecer un nexo con la vitalidad de los procesos pulsionales de estos: pero existen individuos en los cuales esta conquista psíquica temprana no se desarolló o se arruinó luego, de manera transitoria o más duradera, y en tales ocasiones la subjetividad queda interferida, al menos parcialmente, y en su lugar suelen aparecer alteraciones somáticas. (p.17-18)
Considerações Finais
O método de análise do discurso Algoritmo David Libermann, ADL, apresentou-se para nós como a possibilidade mais eficaz e de maior validade para a pesquisa psicanalítica, principalmente por interpretar os discursos a partir da metapsicologia freudiana, pensando as manifestações pulsionais e seus destinos enquanto mecanismos de defesa psíquica.
A interpretação metapsicológica por meio do ADL pode assim, levar a uma compreensão das dinâmicas psíquicas que se apresentam nas falas dos sujeitos, contribuindo não apenas á clínica psicoterápica e psicanalítica, mas também a outras situações em que o discurso se faça presente, ou seja, em cada campo de constituição do humano e em sua relação com o outro.
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Universidad de Ciencias Sociales y Empresariales. (2010). La cita y referencia bibliográfica; Guía basada en las normas APA. UCES. Buenos Aires.
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· Zeno Germano.
· Psicólogo (CRP01/7798). Professor do curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil. ILES/ULBRA/Porto Velho, Rondônia. Doctorando en Psicología / Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales de Buenos Aires/Argentina.(UCES).